Thais Campidelli de Freitas
Ontem acordei pensando no primeiro poema que decorei na vida.
Era um poema de Cecília Meireles intitulado "Motivo".

"Eu canto porque o instante existe 
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias, 
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico, 
se permaneço ou me desfaço, 
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada."

Lembro-me de tê-lo escutado no programa de TV Castelo Rá-Tim-Bum, onde um gato que viva dentro de uma biblioteca declamava poemas de grandes escritores brasileiros.
Uma frase em especial me chamou a atenção desde aquela época...
"Não sou alegre nem sou triste: sou poeta".
No auge dos meus 8 ou 9 anos eu não conseguia entender o que era ser poeta, mas segundo Cecília, era alguém que não era nem triste e nem alegre, alguém que vagava nesse meio termo.
Depois de tanto tempo eis que me pego pensando novamente nessa linha.
Agora com mais maturidade e um pouco mais de conhecimento sobre o que vem a ser a palavra "poeta" e o seu significado, me ponho a pensar novamente sobre isso.
Afinal o que é ser poeta?

De acordo com o dicionário Aurélio:

3ª pess. sing. pres. ind. de 2ª pess. sing. imp. de poetar
Que ou aquele que faz versos.
Que ou quem é idealista.


Li outras definições e juntando todas elas comecei a formular o meu conceito de poeta.
Imagem: Eu me chamo Antonio 
Pra mim ser poeta é fazer dos sonhos, dos desejos, dos anseios, dos pensamentos, das emoções e das diversas visões do mundo, palavras!
É transformar o irreal e o impossível, papável e visível ao olhos.
É poder ser você numa linha e logo depois viver os teus milhares de personagens nas demais.
É esquecer uma vírgula, um ponto, uma regra, mas se fazer entender.
É nem sempre ter métrica e rima.
Ser poeta é envolver alguém sem um dedo movimentar, sem tocar!
É emocionar!
É trazer o leitor pro teu mundo.
É fazer com que quem lê os teus escritos pense sobre aquilo e reflita sobre quais situações te fizeram pensar assim e o que te motiva a sair escrevendo.
Ser  poeta não é somente saber utilizar e entender as palavras complicadas da nossa norma culta, é se valer de palavras simples, as tais coloquiais, mas que carregam consigo imenso conhecimento sobre a causa que descrevem.
É deixar pingar água no papel para fazer escorrer versos quando o coração machuca, para que eles possam servir de alvará de soltura para os sentimentos que ali ficam encarcerados.
É tentar explicar o sorriso mais bonito quando se é feliz.
É falar de amor, falar de novo e de novo e mesmo assim não saber nada sobre isso.
Ser poeta é ter a mão suada e a garganta entalada em dias tristes, é esbravejar e extravasar com uma caneta e um papel.
É iniciar uma guerra de pensamentos e terminar na solidão de um ponto final.
É sonhar com reticências e sorrir com exclamações!
É multiplicar idéias com uma interrogação.
É transformar tristeza em beleza e felicidade em carinho de fôrma, de mão e escrito.
É ter a certeza de qualquer experiência pode lhe render boas linhas.
É ter vontade de escrever e ser lido!

Por ora isso é ser poeta pra mim!
1 Response
  1. Malu Says:

    Hey, Thatá!

    Tô num momento de bloqueio, sabe? Sem conseguir escrever nada apesar da mente estar em ebulição. Por isso ainda ñ tinha parado pra comentar seu texto, o que foi com certeza um engano de minha parte. Aqui a inspiração pulsa em cada palavra que você escreve. Que lindo texto, menina!!! Amo o poema de Cecília, e adorei mais ainda as suas definições... "É deixar pingar agua no papel para fazer escorrer versos quando o coração machuca..." Perfeito!

    Lindo, viu? Beijinhos!


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